18 de junho de 2011

The Witcher (PC) (***)

The Witcher (PC) (***)

Houve um tempo onde os bons games vinham apenas dos EUA e Japão, onde encanadores de bigode e porco-espinho azuis dominavam os jogos. Esse tempo acabou. Hoje a Europa desponta com um novo centro de criação de ótimos games, não só a Europa Ocidental, como a francesa Ubisoft (Assassins Creed, Far Cry 2...), mas também o Leste Europeu, e The Witcher é um surpreendente RPG polonês que todo fã de um bom game deve jogar.

Antes de mais nada, esteje avisado. Instalar The Witcher é um pé no saco sem dó nem piedade. Pelo visto a polonesa CD Projekt Red esqueceu que a indústria de games vende mais do que a de cinema, ficou morrendo de medo de pirataria, colocou uma proteção meio esquisita no jogo, depois desistiu de tudo e largou The Witcher na mão...

Pessoalmente eu vi o game por um preço acessível numa livraria e comprei o original. Instalei normalmente e o jogo não deu sinal de vida. Ao entrar na página de The Witcher na internet, descobri que não tem qualquer auxílio da produtora para o game, apenas uns dois patchs para baixar. Baixei os dois, mas nenhum instalou.

Basicamente funciona assim: Você instala o game mas não pode jogar de imediato. Se seu sistema for Windows 7, você precisa ir até a página da TAGES protection (empresa que faz o sistema de proteção à cópias do jogo), baixar o drive deles e instalar.

Mas não jogue ainda. O sistema da TAGES vai derrubar seu jogo depois de poucos minutos de início! Agora é hora de ir na página da Gamespot e baixar os patches de 1.1 até 1.3. Instale todos!

Mas não jogue ainda, o TAGES ainda vai derrubar seu game!. Agora vá para o site do game e baixe os patches 1.4 e 1.5 e o language pack. E tenha um bom tradutor aberto em outra aba, porque a parte do download está em polonês!

Baixou tudo? Agora vá no instalador do TAGES que você baixou, clique e desinstale ele. Sim, você precisa dessa praga pra instalar os patches 1.1 à 1.3, mas o 1.4 não instala se você tiver ele. E pra variar ele não aparece em Painel de Controles - Desinstalar Programas...

Agora é hora de instalar a versão 1.4. E reze com muita fé para ela instalar, porque o game vai choramingar para você se cadastrar na comunidade de The Witcher (e o cadastro não funciona nem no site oficial... simplesmente não existe link para ele...) e muitas vezes não vai querer ir para a frente por conta desse maldito cadastro. Se (ou melhor, quando) der certo, instale o patch 1.5 e pronto, finalmente, quase 4 horas depois, você vai poder jogar The Witcher.

A instalação é tão bugada que uma pesquisa rápida no Google por "The Witcher problems" ou "The Witcher Instalation" retorna mais de 9 milhões de sites, a maioria listas de discussão com o pessoal reclamando que não consegue jogar o game. Dá até vontade de comprar o game original (porque é muito bom, e a CD Projekt Red merece) e baixar o mesmo game já crackeado no PirateBay para poder instalar e jogar em paz.

Fora os problemas de instalação, The Witcher é um jogo muito bom. A narrativa, baseada nos romances do escritor polonês Andrzej Sapkowski, teve consultoria do próprio autor, por isso é bem mais consistente que a maioria dos RPGs que vemos por aí hoje.

O protagonista, Geralt of Rivia, é um "witcher", um caçador de monstros profissional, que ganhou fama após libertar a princesa de um reino de uma maldição. Dado como morto, ele reaparece vivo na sede dos caçadores, um castelo em péssimo estado de conservação, que é prontamente atacado por um grupo de bandidos chamados "Salamandra".

De início a história não empolga muito, mas conforme o game anda, fica claro o cuidado da CD Projekt Red com a narrativa. Há muitas decisões deixadas para o jogador, que mudam o game todo, e que realmente fazem sentido dentro da história. Se você se alia a uma facção e tem outra como inimiga, o jogo muda totalmente, desde as pessoas que você vai encontrar até os inimigos que vai enfrentar ou os locais que vai visitar.

Outro ponto muito positivo de The Witcher é que o game é extremamente adulto, fugindo daquele moralismo dos jogos americanos. O game não tem pudores em mostrar mulheres (e homens, e mortos-vivos, e monstros...) totalmente nuas, sexo explícito, palavrões e violência digna de um Mortal Kombat. Na verdade, praticamente todas as mulheres que o protagonista encontra podem acabar na cama dele, cedo ou tarde, e cada vez que Geralt transa com alguém, o jogador ganha um "cartão" com um belo desenho da personagem, muitas vezes com direito a nudez frontal, pintado em um estilo art-noveau.

Claro que a versão americana de The Witcher teve várias partes censuradas, mas o patch 1.4 normalmente adiciona as partes "calientes" novamente, portanto, prepare-se para ver coisas que normalmente não aparecem em jogos.

The Witcher, no entanto, não é apenas sobre pancadaria e mulheres nuas. Além das várias escolhas que você vai ter que fazer, ele trás cenas raramente vistas nos RPGs eletrônicos. Que tal ir para a taverna e discutir com amigos antigos de Geralt sobre as garotas do jogo? Ou escolher se mudar para a casa de uma enfermeira sexy ou uma feiticeira gostosona (com direito a crise de ciúmes da que você não escolheu...)? Ou educar um pirralho com poderes mágicos?

The Witcher também trás muitas referências à cultura pop. Que tal o eremita que discute os livros de Dan Brown (O Código Da Vinci)? Ou a divindade Dagon, das obras de H. P. Lovecraft? Ou a Dama do Lago das lendas do Rei Arthur?

The Witcher tem alguns probleminhas com a parte gráfica. O pessoal da CD Projekt Red ficou com preguiça de criar modelos diferentes para cada personagem, e resolveram reciclar muitos modelos. Tudo bem quando isso afeta apenas personagens sem importância, que apenas passam pela rua sem falar com você, mas aqui a coisa passou dos limites. Vários personagens importantes para a trama tiveram seus modelos reaproveitados à exaustão, e a impressão é que quase todos no mundo de The Witcher tem vários irmãos gêmeos vestidos com as mesmas roupas zanzando por aí.

Encontrar um personagem específico no meio de uma multidão de "clones" é bastante chato... Bastava usar o "método Mortal Kombat", mudar as cores da roupa e cabelo de um destes modelos e pronto, seria mais fácil localizar alguns personagens entre os "clones" deles.

Os cenários também apresentam bastante diferença entre si, um efeito meio similar ao de Diablo II, que parece que cada parte foi feito por um (ou um time de) level designer diferente. Há ambientes bem construídos, com muita variedade de prédios e cores, e há locais simplórios, com uma paleta de cores feiosa e pouca liberdade de exploração. O começo do game, principalmente, é meio desanimador, com um mapa em forma de rosquinha e missões meio enjoativas (em certa parte você tem que escoltar uma garçonete em meio a uma infestação de monstros, o problema é que ela sempre corre em direção ao primeiro monstro que aparece, e morre em uma mordida só, antes que você tenha condições sequer de chegar no bicho primeiro...), mas depois tudo melhora bastante, de mapas mais amplos a cores mais vistosas e quests mais bem feitas...

Em resumo, The Witcher é um bom game, tem uma boa narrativa, um ótimo sistema de combate, mulheres sem roupa, é divertido e tem uma trilha sonora competente. A pouca variedade de modelos conta um pouco contra, assim como a animação meio tosca de algumas cutscenes, mas o que realmente enche o saco é a instalação esquisita do jogo.

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